Não pense em crise, trabalhe! | Forget the crisis, go to work!
Vermelho | São Paulo - Brasil | 2019
In his third solo exhibition in Vermelho, Guilherme Peters works around political episodes that have taken place in Brazil from 2013 and onwards until the arrival of presidents Michel Temer and Jair Bolsonaro to power. Peters presents 21 new watercolors that combine events from the two administrations with icons and events present in the historical paintings by Jean Baptiste Debret, Théodore Géricault, Jacques-Louis David and Joseph Albers. The watercolors also reference the first representations of Brazilian fauna and flora made by Dutch painters during the colonization of the territory. Episodes that fueled the political polarization faced by Brazilian society are combined with historical iconography in a dialogue echoing Karl Marx’s phrase “history repeats itself, the first time asa tragedy and the second as a farce.”
Referenced in the works are the historical relations with the most recent Brazilian governments and their connections with the two dictatorships that ruled Brazil in last century: the Vargas Era from 1930 to 1945; and, the Military Dictatorship from 1964-1985. Also, the works touch on slavery implemented with the colonizers from 1500 through 1815 and then the Imperial period from 1822-1889. The Vargas Era is pointed out by the presence of the character José Carioca, created by the Disney Studios in 1942, when it appeared in the animated film ‘Saludos Amigos’’. The anthropomorphic parrot would represent the “typical Brazilian” from the American perspective: witty, friendly, receptive and slightly mischievous. The character, in the context of World War II, was instrumental in the policy of “good neighbors “ between the governments of Getúlio Vargas and Franklin Roosevelt. From these periods come the depictions of torture procedures and physical punishment.
The interpretation of a cyclical history echoes a statement by the current Brazilian president who has proclaimed his sympathy for torture practices. Some practices of obtaining confessions by means of physical or psychological pain employed during the Military Dictatorship of Brazil and during the enslavement appear next to historical icons form art and politics or representations of a Brazil of exuberant nature. Some watercolors bring QR Codes, leading to additional online content. The internet, and especially the smart phone applications, were vehicles for the narratives that permeated the last presidential elections in Brazil and are, for Peters, the terrain where the works are completed.
In addition to the historical connections present in the watercolors, Guilherme Peters reflects on the current friction between the executive, legislative and judiciary powers in two installations. On the façade of Vermelho, the artist presents ‘Three Powers’ (2019), a drawing made with barbed wire that overlays three empty cubes. In Room 1 of the gallery, ‘Penalty’ (2019) proposes a possible football game, with a goal painted on each of the walls in the room. The available ball, however, is made of solid cement.
The work ‘Negative of the act’ (2019) is divided between rooms 1 and 2 of the gallery. The title of the exhibition was engraved on an iron plate, using oxidation from acid baths. The plate was then used as a matrix to print, also with iron oxidation, a canvas with the “mirrored” phrase. “Forget the crises, go to work” was a phrase used by President Michel Temer when he assumed the presidency after the process of impeachment that removed Dilma Roussef from the executive’s command in the middle of her second term. Temer said he got the phrase from a billboard at a gas station and used it as an informal slogan for his government hoping the mantra would help reverse the country’s “climate of crisis”. A Brazilian journalist located the author of the billboard and owner of the gas station in the town of Guareí, in the state of São Paulo where he had been arrested and jailed for a murder conviction after killing a man. João Mauro de Toledo Piza was also accused of selling adulterated fuel at the gas station that inspired the president.
Em sua terceira exposição individual na Vermelho, Guilherme Peters trabalha em torno de episódios políticos ocorridos no Brasil a partir de 2013 e seus desdobramentos até a chegada ao governo federal dos presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro. Em um conjunto de 21 aquarelas, Peters combina fatos das duas administrações com ícones presentes em pinturas históricas de Jean Baptiste Debret, Théodore Géricault, Jacques-Louis David e Joseph Albers, além de fazer referência às primeiras representações da fauna e flora brasileiras feitas por pintores holandeses após a colonização do território. Episódios que alimentaram a polarização política enfrentada pela sociedade brasileira são combinados com as figuras históricas em um diálogo que ecoa a frase de Karl Marx “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
As relações históricas com os mais recentes governos brasileiros, nas obras, também se dão com as duas ditaduras vividas no Brasil do século passado, a Era Vargas (1930-1945) e a Ditadura Militar do Brasil (1964-1985), além do escravismo implementado nos períodos Colonial (1500-1815) e Imperial (1822-1889) do Brasil. A primeira aparece apontada pela presença do personagem Zé Carioca, criado pelos Estúdios Disney em 1942, quando apareceu no filme de animação ‘Alô, Amigos”’. O papagaio antropomórfico representaria o “brasileiro típico” sob a ótica norte-americana: alegre, amigável, receptivo e esperto. O personagem, no contexto da Segunda Guerra Mundial, foi instrumental na política de “boa vizinhança” entre os governos de Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt. Dos outros períodos vêm representações de procedimentos de tortura e punição física.
A interpretação de uma história cíclica, destaca declarações do atual presidente que demostram sua simpatia pela prática de tortura. Algumas práticas de obtenção de confissões por via da dor física ou psicológica empregadas durante a Ditadura Militar do Brasil e durante o escravismo aparecem representadas junto aos ícones históricos da arte, da política ou de representações de um Brasil de natureza exuberante. Algumas aquarelas trazem QR Codes em suas imagens, levando a conteúdo adicional online. A internet, e em especial os aplicativos para smart phones, foram veículo para as narrativas que permearam as últimas eleições para presidente no Brasil e, são para Peters, o terreno onde as obras se completam.
Além das conexões históricas presentes nas aquarelas, Guilherme Peters reflete a respeito do atrito atual entre os Três Poderes do Brasil em duas instalações. Na fachada da Vermelho, o artista apresenta Três poderes (2019), um desenho feito com arame farpado que sobrepõe três cubos vazados. Na sala 1 da galeria, Penalty (2019) propõe um possível jogo de futebol, com um gol pintado em cada parede da sala. A bola que fica disponível para os lances ao gol é, no entanto, feita de cimento maciço.
‘Negativo do ato’ (2019) se divide entre as salas 1 e 2 da galeria. A frase título da exposição foi gravada em uma placa de ferro, utilizando sua própria oxidação a partir de banhos de ácido. A placa foi, então, usada como matriz para estampar, também com a oxidação do ferro, uma tela de pintura com a frase espelhada. “Não pense em crise, trabalhe”, foi uma frase dita pelo presidente Michel temer ao assumir a presidência após o processo de impeachment que tirou Dilma Roussef do comando do executivo na metade de seu segundo mandato. Temer disse que viu a frase estampada em um outdoor em um posto de gasolina e considerou que o mantra ajudaria a reverter o “clima de crise” do país, assumindo- a como um slogan informal de seu governo. Um jornalista localizou o autor do outdoor preso no município de Guareí, no estado de São Paulo, por uma condenação de homicídio depois de atirar em um desafeto. João Mauro de Toledo Piza foi acusado, ainda, de vender combustível adulterado no posto de gasolina que inspirou o presidente.
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